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DIREITOS AUTORAIS

Todos os textos aqui publicados são autoria de Ala Voloshyn.
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sexta-feira, 6 de março de 2009

Maria das Dores

pintura a óleo de Richard Young

Ela não é branca, negra, parda, nem amarela. Ela é Maria das Dores.
Não é moça, nem velha, não é bonita ou feia, não é rica, nem pobre. Ela é Maria das Dores.
Maria das Dores nasce oprimida pelo machismo, moda, estética, vaidade, ignorância, pobreza, preconceito e principalmente pelo medo. Ela tem muitos medos. Teme a solidão, o parto, as varizes, o câncer de colo de útero, a velhice, a agressão, o abandono. Teme outras mulheres a competirem com ela, a começar pela sua mãe. Este mundo estressado não é para ela, pois acaba com seus hormônios, com os quais tem que lidar a vida inteira, oscilando em cada fase.
Por ser multifacetada, é capaz de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e isto parece motivo suficiente para sofrer abusos de toda espécie, por meio de sobrecargas de trabalho em vários papéis sociais.
Maria das Dores acredita no amor romântico, mesmo que não admita isto, por ser uma mulher moderna, mas ainda é pega sonhando com o príncipe encantado que ao conhecê-lo melhor perderá seus encantos.
Maria das Dores tem muitas dores: de parto, menstruação, no corpo quando violentada ou agredida por qualquer motivo. Sofre dores nas perdas, desilusões, fome, discriminação, rejeição. Mas quando trabalha, estuda, borda, pinta, canta, escreve, rega flores, cozinha, cuida da casa, se banha, amamenta, ama, pari seu filho ou o defende das agressões do pai, se torna a grande Maria, se torna a Grande Mãe, pois tem vida em seu coração e jamais violaria seu desígnio maior: proteger e manter a vida.
Maria das Dores chora muito, sente um peso enorme em seu coração quando seus sentimentos e direitos humanos são desrespeitados. Às vezes ela só chora e não consegue fazer mais nada, por acreditar em sua impotência para mudar seu estado.
Quando Maria das Dores cansar de chorar e olhar no espelho, perceberá que está se acabando e deixando de lado seu amor próprio, terá motivos suficientes para levantar a cabeça e assumir sua vida, percebendo-a como um projeto pessoal, intransferível e que seu tempo é finito, terá plena consciência que é ela que pode mudar suas dores ao resolver as causas e por fim enxergará sua vida de frente, não mais de baixo. E isto fará toda a diferença. É assim que Maria das Dores se transformará em Maria das Graças.
Salve Maria das Graças! Salve todas as Marias! Salve todas nós!

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Alfândega no Céu


Já imaginou se existisse alfândega no Céu? Todo aquele povo chegando depois de morto, carregando suas bagagens, trazendo milhões de coisas!
Alguns com seu carro, a casa, que levou anos para conseguir e agora que poderia curtir, teve que atender ao chamado das Alturas! Outros com seus doces, sanduíches, com as cápsulas para dissolver as gorduras. Não faltariam joias preferidas, cigarros, bebidas, e outros singelos vícios, às vezes nem tão singelos!
E roupas? Todas elas de preferência, pois nunca se sabe qual a festa que vai rolar no Céu! Não é? Dinheiro em todos os bolsos, cartões de crédito, calmantes, santinhos, amuletos, brinquedos que falam sozinhos, empoeirados de tanto que ficaram expostos em estantes, pois “nem pensar em quebrá-los, afinal custaram uma nota!” Objetos que se acumularam durante muito tempo, por dó de se jogar fora ou passar à diante, pois “pode-se precisar algum dia!” Sabe como é?
Filas e mais filas de gente ansiosa, preocupada com o excesso de bagagem, pensando: ”E se tiver que deixar alguma coisa para traz? Só de pensar dá um frio na barriga! E se tiver que pagar pelo excedente? Qual a moeda vigente no Céu? E o setor de câmbio, onde fica? Existe no Céu?”
Que estresse, até depois de morto!

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