PESQUISE ESTE BLOG

DIREITOS AUTORAIS

Todos os textos aqui publicados são autoria de Ala Voloshyn.
Direitos autorais são protegidos pela Lei 9.610, de 19 de Fevereiro de 1968.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Siga o Mestre



Tudo nos empurra para fora: trânsito, contas, trabalho, conflitos no relacionamento, política interna, guerras, consumo, dinheiro e assim por diante. Muito barulho externo exigindo nossa atenção o tempo todo. Padrões de comportamento admissíveis e logo descartáveis, pois tudo muda numa velocidade difícil de acompanhar, mas para ficar por dentro é preciso estar atualizado. No final do dia estamos todos cansados e quando chega a hora de dormir a mente em polvorosa não nos deixa descansar. Vida dura! Por mais que existam benefícios e vantagens não acredito muito que chegaremos a algum lugar desta forma.
Pode-se conquistar dinheiro, prestígio, posição, despertar inveja, admiração e é este justamente o problema, pois as referências são externas. Seguimos moda, tendências, valores vigentes. Tornamos-nos muito atentos ao que os outros querem e nosso discernimento, opinião pessoal, anseios íntimos verdadeiros ficam atrofiados.
Então eu digo: siga o mestre! Que mestre? Você pensa. Não acabou de dizer que é um problema seguir referências externas, agora vem com essa de seguir o mestre?! Que mestre? Tudo isso você questiona, mas eu continuo insistindo: siga o mestre, mas o de dentro. Como assim? Você protesta. Eu explico. Pelo menos tentarei.
Existem referências que são internas. Elas indicam nosso estado de ser, nossas necessidades de evolução. Vivências são importantes para o aprendizado, mas existem aquelas que necessitamos e outras não. Cada um bem lá no seu íntimo sabe o que precisa experenciar para crescer e sinais internos nos indicam o que é correto para nós. Intuição, sonhos, vontades que não passam, latejam o tempo todo até serem realizadas e quando as obedecemos sentimos muita alegria e alívio.
Já lhe aconteceu de ter um problema e não saber como resolvê-lo? Aquela questão fica martelando em sua cabeça e quando está distraído surge uma ideia que a princípio parece absurda, você a rejeita, pois não encontra nenhuma explicação lógica, mas ela volta insistindo até que você cede e a realiza. Para sua surpresa é a solução, que nem sempre é imediata, mas lá na frente com o desenrolar dos fatos acontece o que precisava e pronto, resolvido, com elementos que irão levá-lo a evoluir muito mais. Já lhe aconteceu? Então você deu crédito ao seu mestre, lá dentro de si, que mais parece uma grande antena parabólica de alcance muito maior que sua racionalidade.
Ao estarmos totalmente comprometidos com o externo e o lógico racional perdemos de vista nossa referência íntima e ficamos batendo a cabeça seguindo padrões que não tem nenhum valor real para nós e aos poucos nosso mestre será esquecido, correndo o risco de atrofiar pela falta de sintonia e a infelicidade se instala, porque nos distanciamos totalmente de nós mesmos, nos tornamos mais um na multidão a repetir padrões com pouca evolução.
Então, eu insisto, siga o mestre!

Ilustração: Google

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Qual É o Motivo?


O que o motiva a trabalhar? Dinheiro, fama, poder, aposentadoria, estabilidade, amor?
Se for dinheiro, é compreensível, mas insuficiente.
Se for fama, é compreensível, um holofote bem direcionado com tapete vermelho pra pisar pode ser sedutor, mas insuficiente.
Se for poder, é compreensível, muitos querem, mas insuficiente.
Se for aposentadoria, é compreensível, ninguém quer viver uma velhice precária, mas insuficiente,
Se for estabilidade, é compreensível, traz certo conforto, mas insuficiente.
Tudo isto reunido pode ser bem atraente, especialmente nos dias de hoje onde muitos querem chegar na frente, custe o que custar, mas como só há lugar para um no primeiro posto será preciso ser individual e individualista, até aí é uma opção, mas sem direito a reclamações como ansiedade, pânico, estresse, depressão e aquele sentimento de solidão.
Na verdade, não tenho a intenção de passar sermão em ninguém, mas quero apenas ressaltar o último item, o amor. Quando se trabalha por amor existe uma diferença enorme em relação aos outros motivos: na busca pela vantagem o prazer no trabalho é efêmero, pois depende de circunstâncias externas e há pouca evolução por não haver satisfação íntima, mas quando o motivo é amor, isto significa que há direta identificação com o ofício, portanto a prática leva a um refinamento pessoal, além de ter muito valor o que se produz, pois é o que se quer oferecer.
Trabalhar por vantagens externas é mais fácil, mas na verdade é uma armadilha, então deixe-me lembrá-lo de que ninguém vive por você, nem morrerá em seu lugar, é  melhor assumir o desejo de sua alma de crescer e escolher uma profissão que o represente, fazendo o que ama, assim o prazer de realizá-la o fará caminhar para frente e lhe dará condições para resolver os problemas inerentes, isto significa transformar suas próprias dificuldades e desta forma evoluir e contribuir.

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

                                                     
Ilustração: Mestre Chico Santeiro, de Santo Antonio do Salto da Onça - RN. Google



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Cultura da Não-Violência

                                    
Queremos paz. A violência aumenta e queremos paz. A violência integra-se cada vez mais nas atitudes cotidianas e falamos em não-violência. Mas como conseguiremos mudar tudo o que nos entristece e oprime?

A não-violência só será uma prática verdadeira quando transformarmos a violência que reside em nós, que exala dos nossos poros, que impera nos atos, que vibra no olhar. E qual é sua origem? Qual sua razão?

Observando melhor só consigo enxergar que por traz de todo ato violento existe muita impotência. Parece contraditório, mas não é. O violento é incapaz de realizar seu objetivo por si mesmo. É incapaz de se organizar, se frustrar, se relacionar, trocar, refletir. Essencialmente não se esforça em melhorar, mas usa com imposição a energia do outro para se satisfazer, faz dele seu braço direito, o conduz para onde quer através do medo, opressão. Desrespeita completamente a individualidade, viola o direito de se viver a própria vida, não enxerga limites, pois, a meu ver, não sabe como construir, não acredita em si mesmo.

Se como sociedade, continuarmos buscando poderes no externo não alcançaremos a realização dos próprios talentos e recursos e a desejada cultura da não-violência ficará distante. Projetamos no outro nossa felicidade e por isso não compreendemos quem somos. Frágeis nos tornamos e por isso continuamos tiranizando, entristecendo, atrofiando quem invejamos e que na verdade admiramos. Se cada um procurar vencer suas dificuldades e realizar o que deseja pela sua potência não precisará agredir.
A não-violência fundamenta-se na autonomia, respeito pela individualidade, compaixão, autoconhecimento, paciência, companheirismo e na consciência de que tudo evolui e precisa de tempo e espaço para se desenvolver. Sua raiz não é externa, é interna.

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: Google

sábado, 21 de julho de 2012

Modigliani


Observando a exposição de Modigliani no MASP, que terminou dia 15 de julho, fiquei entusiasmada com tudo que vi. Conhecendo melhor sua vida contada em grandes painéis desde as primeiras obras, me encantou seu esforço incansável para conseguir ser quem ele realmente era. Através de seus esboços, esculturas e pinturas fica claro o quanto um talento se faz obra pela busca de si mesmo. O tempo aos poucos vai revelando sua transformação até atingir uma forma que o satisfaz, demonstrando uma linguagem que o torna real. Essa independência e liberdade são alcançadas pelo contínuo trabalho. Modigliani é imortalizado porque ultrapassou  limites, desejou ir além e buscou uma linguagem pessoal que brotava de dentro de si, da mesma forma como outros de sua época, que imprimiram um novo olhar, uma abordagem que avançava o tempo.
O que torna alguém especial? Existe apenas uma resposta: encontrar seu estilo e realizá-lo. Não vejo alternativa diferente. Pensando assim pode-se concluir que todos são em essência especiais, mas a busca pela normalidade, pelo senso comum, acaba esmagando a possibilidade do encontro pessoal, o que torna a vida maçante e sem sentido.
Quebrar regras que oprimem o espontâneo não é tarefa simples, pois o senso comum sempre reage para continuar existindo como é, mas a força interna de quem busca algo maior empurra para fora o que está latente e necessita viver.
Resguardar-se naquilo que a maioria acredita sem questionar sua eficácia e verdade é confortável, mas somente para o preguiçoso que ainda não experimentou o gosto de ser quem de fato é.
Cada um traz em si a semente de sua verdadeira identidade e cabe a cada um transformá-la em realidade, através do esforço obstinado de se revelar num fazer e observar. Assim como Modigliani descobriu seu estilo de pintar, pintando, da mesma forma cada ser humano pode realizar-se praticando. É através da ação reflexiva que caem os véus da ignorância. É no trabalho a cada dia que construímos quem verdadeiramente somos.

 © Direitos reservados a Ala Voloshyn







Link do Museu de Arte de São Paulo: www.masp.art.br

 Ilustração: obra de Modigliani. Fonte: Google



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Meu Querido

O manso amansa
Toda vez que toca acalma
A mão afaga
A pele sente
O coração aquece
A paz fica

Quem me dera poder sentir sua mão mansa e sincera
Quem me dera saber que amanhã tudo estará assim
Quem me dera saber que o tempo não o levará de mim
Quem me dera saber o quanto ainda poderei sentir

Nada se sabe do além
Tudo se faz hoje
O amanhã chegará somente amanhã
Certeza não existe
A vida se tece a cada fio

Quem me dera saber o que não consigo ver
Quem me dera acreditar
Que o que hoje acontece
Amanhã acontecerá

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: da Web


domingo, 27 de maio de 2012

Deus do Trovão





Seu nome é forte e sonoro, quatro letras o definem.
Thor, menino bonito e misterioso, seus sonhos me conta
e assim fico sabendo da bondade que ilumina sua alma.










Ilustração: meu filho Thor


© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Amêndoas Doces

Seus olhos amendoados
entendem os animais,
enxergam mais longe que imagina.
Revelam sua esperança
de um dia vê-los como quer,
pacíficos e amados,
sem perderem a mão de quem os afaga.



Ilustração: minha filha Maya


 © Direitos reservados a Ala Voloshyn

Menina

menina, minha menina
que seu riso seja eterno
que sua fala seja pura
que seu olhar brilhe como uma estrela
que sua vida seja como um rio limpo
que sua paz embale meu sono
que sua alegria encante minha alma



Ilustração: minha filha Ametista 

                                                                  © Direitos reservados a Ala Voloshyn

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Do Futuro



Quando surgem não são entendidos, trazem o futuro imprimindo sua marca em tudo.

 É preciso aguardar o passar do tempo para que suas palavras façam efeito.

 Não esperam acolhimento, aparecem para semear e confiam que em solos férteis suas ideias germinem dando continuidade à evolução.








© Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustração: Google

E Daí?


Já fui trocada por riqueza,
outra cama,
comodidade,
fama.

Já fui rejeitada,
desvalorizada,
abandonada,
tiranizada,
enganada.

O que fazer com isto?

Nada,
continuar a caminhada.


© Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustração: Google

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Canção de Mulher



                                                                                                                                                                             

Pela manhã ele foi ao seu jardim e viu uma linda rosa vermelha.
Todo admirado colheu-a e levou para sua mulher. 
Ela encantada agradeceu e o beijou com paixão.
Assim ele compreendeu.
 Se deseja o amor de sua amada,
Deve aprender a cultivar rosas.










 © Direitos reservados a Ala Voloshyn

domingo, 13 de maio de 2012

Metamorfose


Desisto de procurar satisfação em qualquer relação
Penso que não encontrarei
Ninguém é perfeito
Nem eu
É melhor me recolher
E achar dentro de mim mesma o que procuro.




© Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustração: Google 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Adele e Susan Boyle

Adele


Adele Laurie Blue Adkins, conhecida hoje como Adele e Susan Boyle, duas mulheres fora de um padrão de beleza, onde a estética feminina tem em seu estereótipo uma plástica antinatural e monótona pela imposição das suas formas. Mesmo com a insalubridade em que vivemos precisamos ser belas, fortes, competitivas, realizadas, sem perceber este mundo artificial e contraditório. E de repente, surgem Adele e Susan emocionando com suas vozes plenas de uma força emocional que não estamos muito acostumados, devido ao automatismo e a indiferença que nos habitam ameaçando nossa integridade o tempo todo.
O que faz com que estas duas mulheres chamem tanto assim nossa atenção? Adele apareceu muito jovem e obesa e Susan, já mais madura e sem nenhum atrativo estético. Adele saía de um relacionamento amoroso e compôs suas músicas para lidar com sua frustração e Susan vinha de muitos anos sem trabalho e uma relação familiar complicada. Elas vieram com uma força que sai de dentro e quando soltam suas vozes tocam cada um que as ouve bem lá no fundo da alma!
Mulheres fortes! Hoje belas dentro de seu padrão estético, plenas, colhendo bons frutos pela coragem de serem quem são, pois a verdadeira força e beleza estão apoiadas no respeito pela própria natureza, mesmo que o caminho para adquirir consideração seja longo, especialmente quando se resiste em assumir máscaras impostas.
 Nós mulheres cada vez mais desenvolvemos um comportamento competitivo, puramente racional e assim negligenciamos com o que necessita de cuidados, sensibilidade, e uma atitude de característica feminina, que nada mais é que cuidar de tudo aquilo que vive, manter a vida íntegra, manter o Fogo Sagrado que arde em tudo e em todos. Não importa qual seja o papel social assumido. Não importa a idade, etnia, estado civil, enfim, não importa o que fazemos, e sim, a maneira como fazemos, isto define nossa natureza. A flexibilidade, sensibilidade, profundidade no pensar, sentir e a atitude de manter a vida incorruptível e em evolução são características que nós mulheres não podemos deixar perecer. Talvez o que atraia nesta força feminina através das vozes de Adele e Susan seja o despertar em nós a lembrança do que de verdade somos: humanos.
É muito bom ver este movimento de descongelamento, espero ver muito mais e poder acreditar em mudanças íntimas gerando uma força motriz capaz de nos direcionar para uma vida melhor, mais ampla e bela.

Para você:

Adele:
http://youtu.be/w44dk4ysnz8


Susan Boyle:
http://youtu.be/_HO15k3vpPY

© Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustrações: Adele e Susan Boyle / Google
                                 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Maria

                                                           
  
   Ela nasceu na Ucrânia, no ano de 1930. Por 10 anos viveu uma infância tranquila, mas em 22 de Junho de 1941 sua vida começava a mudar radicalmente. Um bombardeio às 4 horas da madrugada anunciava que a guerra havia chegado para ela. Num ato instintivo, Maria e sua mãe se escondiam debaixo da cama sem nenhuma razão lógica, apenas emocional, de quem sente que sua vida precisa ser protegida.
   Aquela infância ficou para trás e o sentido de sobrevivência falava mais alto, pois durante a guerra não se sente medo, apenas coragem para resguardar a vida, como diz Maria. Quem sabe como é passar a noite na floresta mergulhado num rio, apenas com a cabeça para fora, esperando uma oportunidade para escapar dos soldados alemães, que prendiam civis e os levavam para Alemanha a trabalho? Maria sabe! Esta foi sua experiência com apenas 13 anos de idade!
   Ela e sua família tinham uma sina: escapar e resistir para depois voltar para casa. Mas quanto mais insistiam nesta investida mais longe ficavam de seu objetivo, até que o destino os levou a Viena, na Áustria, através de um trem fechado, onde muitos iguais a Maria mantinham-se apertados sem saber para onde os levavam. Pura incerteza, mas resistia Maria!
   De 1943 a 1945, ela trabalhou junto à mãe num hotel destinado a abrigar famílias de oficiais alemães. Agora Maria, já com seus 15 anos, limpava, cozinhava e conhecia a solidariedade de uma cozinheira alemã que lhe dava comida às escondidas, que logo era dividida entre outros como nossa Maria. Parece que o ser humano reage com o que tem de melhor em momentos de extrema dificuldade! Que sorte tem nossa Maria!
   Andavam em turma, pois se sentiam protegidos, e assim viveram até 1949, quando tentando avançar chegaram à Itália. Não tinham nada, cozinhavam em fogão improvisado com tijolos e a panela era um capacete de soldado que encontraram no caminho, pareciam moradores de rua e estavam vivos! Não puderam ficar na Itália, pois lá não recebiam estrangeiros e então Maria e sua família voltou à Áustria.
   Depois de muita resistência surgiu a possibilidade de ir para outro país, Chile, como queria seu pai, mas Maria recusou-se, sem saber por que, só sabia que não queria ir para lá. Parece que Maria sentia que seu destino estava no Brasil, pois quando este novo caminho se apresentou ela não teve dúvidas.
   Em Fevereiro de 1949, Maria e sua família embarcou para o Brasil. Depois de 15 dias de viagem num navio, chegaram à Ilha das Flores, no Rio de Janeiro. No dia 16 de Março de 1949, Maria estava onde queria!
   Do Rio partiram para Campo Limpo, uma cidade do interior de São Paulo e instalaram-se num galpão com outras pessoas. Sua família recebeu ajuda de custo até conseguir se estabelecer. Depois de um tempo mudaram-se para Osasco.
   Já em São Paulo, Maria conseguiu emprego numa fábrica de rádio para automóveis, Telespark. Pelo seu bom trabalho conquistou respeito e dinheiro. Ajudava no sustento da família e, assim, puderam comprar um terreno e construir uma casa, e a vida continuava seu trajeto.
   Mas nem tudo era trabalho! Maria gostava de cinema e não dispensava um baile, e é desta forma que ela chega a São Caetano do Sul. No centro, na Rua Santa Catarina, dançava até as 4 horas da madrugada num salão mantido por imigrantes ucranianos. Num destes bons domingos conheceu Volodymyr, também imigrante. Em novembro de 1955 se casaram e vieram morar em São Caetano do Sul, no Bairro Santa Maria, onde já vivia uma irmã dele.
   No começo a casa tinha reboque apenas por dentro, o piso ainda de cimento sem nenhum revestimento. Os móveis do casal se resumiam em um guarda-roupa, uma cama de molas e um colchão de algodão duro, tudo comprado num brechó! O fogão? Uma espiriteira e pronto! O enxoval de Maria era guardado em caixas. Não tinham luz elétrica, nem água encanada, mas um poço resolvia o problema! Vizinhos? Quase nenhum!
   Maria logo ficou grávida e todas as manhãs caminhava com seu marido até a estação de trem de Utinga. Continuava trabalhando na Telespark e tudo era sacrificado, especialmente pelo trem lotado com a barriga cada vez maior. Mas Maria resistia! Em agosto de 1956, nascia em casa, de parto normal, pelas mãos de uma parteira, sua filha. Dois anos depois, também em casa, dava à luz a seu filho.
   Com o nascimento da filha precisou sair do trabalho, pois não havia creche e alguém próximo que pudesse cuidar do bebê. Ela deixou seu emprego sem na verdade querer, mas sua responsabilidade de mãe falou mais alto.
   Uma vida de muita luta e sacrifício, que valeu a pena, pois hoje esta mulher só sabe dizer que detesta pessoas que falam em guerra, para ela tudo pode ser resolvido pelo diálogo. Acredita que quando um país é invadido não se tem muita escolha, mas quando não, cada um pode viver em paz com seu vizinho. Orgulha-se de sua casa que hoje a protege, assim como sua família. Acredita que este é um país abençoado e gosta muito da cidade onde vive, pois não lhe falta nada.
   Sente-se vitoriosa e, com orgulho, afirma que o que a salvou não foram as jóias nem o dinheiro, mas a vida! Acredita que a inteligência é nosso Deus, pois através dela podemos vencer muitos obstáculos. Diz que podia hoje ser uma pessoa louca por causa dos horrores da guerra, mas na verdade está lúcida e agradece ao seu pai por tê-la protegido o tempo todo.
   Maria é um exemplo de força, coragem, lucidez e resistência!
   Esta é a história de Maria Deckij Voloshyn, minha mãe.


No dia 2 de Junho de 2013 Maria faleceu. Deixou-nos com saudades e a certeza de que a vida é a maior dádiva que podemos ter. Valeu, mãe!


Ilustração: foto do acervo pessoal

Este texto faz parte da Antologia "de Maria a José", onde 20 autores pertencentes a Academia Popular de Letras da Biblioteca Paul Harris contam histórias de pessoas que, pelo seu valor humano, escolheram homenagear. Este livro foi lançado em Fevereiro de 2012 pela Secretaria de Cultura de São Caetano do Sul. 


© Direitos reservados a Ala Voloshyn







terça-feira, 17 de abril de 2012

Lavar Louça Ninguém Quer

                              
Lavar louça ninguém quer! Mas poder todo mundo quer! É homem, é mulher, gente jovem, gente velha, pode ser pobre, rico, feio ou bonito, todo mundo quer! Mas lavar louça que é bom, ah, isso ninguém quer!
Poder pra quê? Simples, pra mandar, chegar primeiro, fazer valer sua vontade, ter dinheiro, ir ao shopping quando quiser, andar de carro novo, ter mulher bonita, ter homem bonito, ser bonito, ter muito amigo pra aplaudir, tomar café com gerente de banco, estacionar o carro em vaga de idoso, sem ser idoso, e assim até  enjoar!
Poder todo mundo quer, mas lavar louça ninguém quer!
Alguém tem que lavar! Quem quer?

© Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustração: Google.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Cancerígeno

Recebemos uma imensidão de informações sobre agentes cancerígenos e todos os dias somos lembrados do que devemos evitar e do estilo de vida seguro que devemos desenvolver. Vivemos mergulhados em ameaças que algumas conseguimos evitar e outras nem queremos pensar, tudo muito centrado no biológico, mas fico imaginando o quanto engolimos todos os dias  agentes agressores ao nosso campo psicológico sem sequer associá-los ao mal que podem nos causar pela sua ação invasiva e ameaçadora ao equilíbrio vital.
Quantas mentiras, traições, manipulações, ameaças, cenas de ciúmes, álibis que não convencem nem as crianças, promessas sem nenhuma intenção de serem cumpridas, jogos de sedução, abandonos covardes, ações que não correspondem ao discurso e assim por diante, tudo conversa mole pra boi dormir e boi bem sonso! Todos os dias engolimos, engolimos e engolimos estes agentes agressores e já habituados, nem um pequeno enjôo sentimos! Quando colocamos na boca um alimento estragado, insuportavelmente amargo ou que não gostamos, não temos muita dúvida e colocamos para fora, mas por que estes agentes colocamos para dentro?
Por que não damos um basta? Por que não evitamos? Por que participamos deste jogo letal? Se pensar bem perceberá que já engoliu muita coisa que está entalada na garganta ou causando no mínimo uma gastrite infernal. Que tal colocar para fora? Limpar-se e ser pelo menos coerente com suas necessidades de bem viver com certa dignidade.
Ninguém precisa acreditar no que não acredita. Ninguém precisa abaixar sua cabeça aceitando o que sua alma rejeita. Ninguém precisa seguir um padrão que não lhe corresponde. Ninguém precisa fazer de si mais um boneco sem vida manipulado por quem o queira.
Está ruim? Sabe que lhe fará mal? Não confia? Não dá para engolir? Então não engula, defenda-se. Preserve sua integridade. Preserve sua verdade. Preserve sua vida!

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: da web

terça-feira, 20 de março de 2012

Solidão


Alma canta

Espera poder ser quem é
Espera saber onde está sua paz
Espera viver sem medo das barragens que a cercam

Dolorosas
Imensas
Barragens

Espera

Cansa

De não ouvir resposta clara

Alma canta e não encontra eco

Sem reposta

Alma se cala
Vive para dentro
Vive sem alento


 © Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração:  da Web



segunda-feira, 5 de março de 2012

Não me Peça pra Ficar

“Não me peça pra ficar só porque não quer me acompanhar”, Vander Lee escreveu em sua canção, mas quantos poderiam dizê-lo sem titubear? Escolher seu caminho, deixar para traz aquilo que gosta, amigos, amores ou coisas, em função de necessidades. É mais fácil se deixar levar, ter quem opine em sua vida, ter quem lhe mostre o caminho, ter quem elimine a angústia da escolha.
Palpiteiros, guias é que não faltam. Geralmente parecem bem intencionados, sábios, firmes e de certa forma impositivos, pois para influenciar é preciso ter talento, força, poder de convencimento e gente preguiçosa também existe em bom número, assim o par está selado, dominante, dominado. Um não existe sem o outro e quando a parceria se estabelece fica difícil interferir, pois o dominador precisa exercer seu poder e o preguiçoso não quer o conflito. Santo conflito! Já parou para pensar que é de conflitos que nascem as melhores decisões? Olha-se para um lado e depois para o lado oposto e com alguma dose de angústia chega-se ao resultado, ao novo, à transformação.
Angústias levam para frente, confortos levam à estagnação e dependência. Maldita dependência daquele que escolhe o caminho fácil de ser conduzido! Sem citar aquele que conduz que parece fazer algo de bom, mas ao eliminar o poder de escolha do outro faz na verdade muito mal!
Quem tem sua Vontade inibida não consegue penetrar no seu íntimo, não consegue ouvir a voz de seu coração, não sabe o que quer, pois não sabe quem é e por isso está perdido a precisar da mão de quem o conduz, sabe Deus para onde, mas com certeza não será para o caminho de sua própria vida e assim seu tempo se esvai sem que perceba o tamanho da prisão em que se encontra!

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: Foto da Web

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cansei


perto de mim
quero gente de alma fina
delicada
sensível

quero gente gentil
com senso de estética
equilíbrio
harmonia

quero gente com sorriso claro
olhar firme
fala alegre
coração repleto de sonhos pra construir

quero gente livre

pra poder me aconchegar
confiar
abraçar

quero gente sincera
humilde
pensante
esperançosa

cansei

de gente prepotente
vaidosa
cheia de teorias que não consegue colocar em prática
gente que não consegue ouvir uma crítica
que engana
trai
degola pra continuar respirando

cansei de gente que me pesa nos ombros
cansei de gente que crava seus dentes na minha jugular

cansei

quero gente de alma fina
delicada
sincera

perto de mim

cansei

 © Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: Ikebana Sanguetsu


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As Portas do Inferno Estão Abertas para Visitação


Quando o menininho chega para a mamãe e mostra seu desenho, ela logo diz para valorizá-lo: “é lindo!!”. O garotinho olha para ela sem entender a princípio o que aquilo significa, pois só queria mostrar o que estava pensando, o que havia percebido, o que sentia, mas gosta daquela expressão carinhosa e feliz. Até aí tudo bem!

Num outro dia ele desenha de novo e se esmera nos traços e corre para mostrar sua produção e logo ela novamente se alegra e exibe sua admiração. O garotinho já estranha menos, da mesma forma gosta da reação e este é um sinal de que as coisas começam a se complicar para o menininho.

Com o passar do tempo esta cena se repete e o pequeno logo aprende que obtém admiração, atenção e afeto ao mostrar ao outro algo que ele gosta. Mais um pouco ele se enrola!

A mamãe para incentivar seu filhinho sempre faz a mesma cara de que gostou, mas pouco pergunta para o infante o que significa seu desenho e assim ele aprende mais um pouco a repetir o que de início era espontâneo. Tentará reproduzir o desenho que pensa ter agradado, pois também se sente agradado. Pronto, o padrão começa a se instalar na cabecinha do menininho! Um padrão para agradar e se sentir bem. Aqui ele começa a prestar mais atenção ao outro que a ele. O outro se torna mais importante e aos poucos sem que ninguém perceba, ele vai se distanciando de si mesmo. Pobre menino!

Mas esta história não para por aqui, tem um agravante, a mamãe que às vezes é um pouco intolerante com suas frustrações maternas, pois se preocupa em educar bem seu garotinho, fica muito brava quando ele não faz o que ela acha que seria bom ele fazer, então emburra, e aquela carinha carinhosa e agradável que seu filhinho estava acostumado desaparece e o que era gostoso fica ruim. E assim este pequenino fica um pouquinho  confuso, não entende bem como estas coisas funcionam, mas como é espertinho vai aprender rapidinho que se fizer o que mamãe gosta, aquela carinha agradável voltará e ele se sentirá mais seguro! Pronto! As portas do inferno se abriram para visitação!

O menino crescerá e cada vez mais aprimorará sua capacidade de agradar e esquecerá uma palavra que é uma das mais importantes do vocabulário de qualquer um: “não”! E aí então as portas do inferno permanecerão abertas por tempo indeterminado para visitação! Nosso garotinho que começou bem entra numa enorme enrascada, sua capacidade de escolha fica muito comprometida e se nada fizer por si, será mais um a aumentar a fila dos desesperados, dos sem opinião, dos cover de alguém, dos patifes, omissos, infelizes. Um verdadeiro inferno!

Aquele lindo menininho com o tempo se transformará num homem pouco interessante, comum, só mais um homem a trocar sua capacidade de questionamento por um padrão. Será mais um a dizer o que o outro quer ouvir para obter dele aprovação e o que deseja, mais um a barganhar, enganar, fingir, mais um a não saber quem é, mais um a ser manipulado, mais um a manipular, mais um a não suportar uma crítica e mais um a morrer de medo de dizer “não”! “Não quero, não acredito, não concordo com você”! “Penso diferente, minha escolha é outra.” Cada vez que dizemos “não” estamos refletindo, escolhendo, modificando, dando fronteiras ao invasor, se defendendo, se responsabilizando pela própria vida e mais, contribuindo para a evolução do outro que na tentativa de encontrar resposta diferente terá que refletir, escolher, se transformar, aprender algo novo.

Este inferno que está aberto para quem quiser entrar pode ser diferente se o esforço pessoal for na direção do autoconhecimento e responsabilidade pela própria felicidade, destituindo o outro desta função.

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: Teatro Imago Ensaio Vis Motrix

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Gentileza


gentileza requer
observação
inteligência
disposição para ação
delicadeza
capacidade de doação
nenhuma intenção de receber em troca

se algo quer
não é gentileza
é sedução

 © Direitos reservados a Ala Voloshyn


Ilustração: da Web

domingo, 1 de janeiro de 2012

Sem Vontade de Lutar


Sem vontade de lutar,
mas a ferida lamber.
Lamber até cicatrizar,
para não mais doer.

Lutas infindáveis pela própria vida
fizeram gastar uma alegria que ainda insiste em ficar.
Ficar para poder seguir
mesmo que com a ferida que se abriu ao lutar.

Lamber até curar.

Ficar só,
para mais tarde compartilhar
e seguir em frente sem ter medo de outra ferida abrir.

Seguir em frente
e poder encontrar
quem tanto espero achar,
Eu.

© Direitos reservados a Ala Voloshyn

Ilustração: Obra de Modigliani

ARQUIVO DO BLOG