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DIREITOS AUTORAIS

Todos os textos aqui publicados são autoria de Ala Voloshyn.
Direitos autorais são protegidos pela Lei 9.610, de 19 de Fevereiro de 1968.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Tia Lily


Minha linda tia Lily! Foi batizada como Lily de Andrade Guimarães, a caçula de três filhos. Não teve irmã, fato que lamentava; dizia sempre que sentia falta das conversas de meninas, com seus sonhos ao falar de meninos. Assim era minha tia, sonhadora e terna. Tocava piano como quem nunca vi. Em sua casa não faltavam alunos. Era uma professora exigente, buscava sempre a perfeição e com seu jeito doce conseguia com que cada menino e menina se esmerassem ao tocar as teclas daquele piano, que a acompanhou por mais de meio século.
Tia Lily, assim a chamávamos, viveu sempre no mesmo apartamento, num prédio antigo, robusto, de bom gosto, perto da Praça da República. Lugar que ela adorava, pois dizia que o centro de São Paulo guardava uma lembrança do belo e requintado. Este era seu espaço, onde viveu trinta e cinco anos com tio Fred. Frederico da Silveira, um homem de alta estatura, belo, muito prático e calcado nas coisas da terra, um  exímio comerciante na venda de calçados. Sabia, como ninguém, encantar qualquer um que entrasse em sua loja. Nunca deixou de vender um par sequer. Não tiveram filhos, para lamento dos dois, e talvez por isso, tratavam seus sobrinhos com carinho especial. Adoravam viajar e assim conheceram o Brasil quase que por inteiro e outros tantos países mais. Ele se foi, já se vão cinco anos e tia Lily sempre falava dele como se o esperasse para o jantar. Nunca se casaram no cartório, alianças nunca vi, mas amor igual ainda não senti.
Tia Lily, depois que tio Fred se tornou uma estrelinha no céu, viveu sozinha com sua cachorrinha Susi e dois gatos, Teodoro e Turíbio, nomes que o tio fez questão de lhes dar, achava engraçado. Ele gostava de chama-los para o jantar. Ambos roçavam suas pernas enquanto ele ria e dizia que eram dois moleques que amava. Susi, meio rabugenta, talvez por ciúmes, não saia de sua almofada, bem perto do piano.
Certa vez tia Lily me convidou para almoçar. Eu amava estar com ela. Era engraçada, com seu cabelo cor de mexerica, ornava bem com seus olhos  azuis. Quando saí do elevador, o corredor estava impregnado com o cheiro de curry. Sabia que era seu delicioso frango com a especiaria! Logo que cheguei fui ajudá-la, pois ainda não estava pronta a iguaria e me prontifiquei a preparar o arroz, enquanto titia cuidava de sua panela com aquele frango a cozinhar num molho borbulhante repleto de curry! Nós duas ríamos, a conversar sobre assuntos diversos, nada importantes, mas valia a alegria. Sem que percebêssemos, Teodoro, subiu no armário bem ao lado do fogão e desengonçado que era não demorou muito, só deu tempo de ver o felino cair bem dentro da panela. Meu Deus! Que horror! Só deu tempo de gritar "Jesus!" Mas tia Lily com sua agilidade conseguiu evitar que o maroto caísse por inteiro no molho. Só foram as patinhas traseiras. Ela o pegou num reflexo impressionante! O danado ficou com a metade do corpo amarelo, cheirando à frango indiano. Demos um bom banho nele e o untamos com boa pomada para queimadura. Depois do susto ríamos de nervoso, mas o frango foi para o prato, nada sofrendo por causa do Teodoro desengonçado. O pelo demorou um pouco a crescer novamente, mas ficou bem! Se aprendeu a lição, não estou certa, mas que nunca mais subiu num armário, isto é fato!
Tia Lily, que saudade tenho de ti! Ontem completaram-se seis meses que você também se tornou uma estrelinha no céu. Hoje, é a primeira vez que entro em seu apartamento para definir alguns procedimentos com seus pertences. Vejo seu piano, em que tantas vezes tocou Chopin, especialmente em noites estreladas, dizendo que era para tio Fred ouvir, se encantar e brilhar cada vez mais lá em cima. Vejo seu espaço, que tantas vezes nos acolheu, seus sobrinhos. Vejo sua coleção de miniaturas e muitos livros, coisas que tão bem representaram, tia Lily e seu amado Fred. Agora duas luzes a me fazer acreditar que o amor verdadeiro se estende além das estrelas.

                                                                   © Direitos reservados a Ala Voloshyn

quarta-feira, 20 de março de 2019

Resistência silenciosa

eu acredito na resistência silenciosa
eu acredito na força do amor
que permeia tudo
que estabelece a paz da compreensão
que inaltece a vida interna
que pacifica o olhar
que atua no florescimento da tolerância

eu acredito na resistência silenciosa do amor
que respeita a natureza de tudo o que vive
que sabe onde deve tocar
sem causar ferimento
que tem a paciência de esperar a transformação do ser 
num ser melhor 
que busca o sentido da vida 
sem destruir o que não conhece
sem retirar a vida de tudo que vive

eu acredito na resistência silenciosa
de todo aquele que vive o poder unificador do amor
e nele se sustenta, se transforma, se expande
e se torna uno com tudo o que vive.

                                      © Direitos reservados a Ala Voloshyn

terça-feira, 12 de março de 2019

Voa alto


abra tuas asas
voa alto
engrandeça teu coração

almeja teu voo pra onde tua alma toca
não perca o rumo
olha teu guia que vive dentro de ti

construa tua morada longe do chão
fuja do que limita teu voo

alcança o que te norteia
siga o que  teus olhos apontam
esteja onde a luz do espírito expande

voa alto
supera voos rasantes
ultrapassa o que te cega de ti

           © Direitos reservados a Ala Voloshyn

     *Ouça o poema no soundcloud narrado por mim:
https://soundcloud.com/ala-voloshyn/poema-voa-alto-de-ala-voloshyn-narrado-por-ala-voloshyn

*Ouça o resultado da parceria entre eu, Ala Voloshyn, e Carlos Jr, onde canto meu poema Voa Alto e Carlos Jr faz toda essa composição linda, incluindo a arte do vídeo.

carlosjuniormusica@gmail.com
Instagram: @carlosjunior_piano
  

terça-feira, 5 de março de 2019

Vítima?


O quanto você acredita ser vitima numa situação, seja ela qual for? Admite que está subjugado e que o outro tem plenos poderes sobre você? Quer seja por violência física ou psicológica, quer seja por domínio econômico, injustiça, perseguição, preconceito, maldade, distúrbio mental ou algo que ainda não pensei?
Seja qual for o motivo não existe alguém na face desta Terra que não tenha, pelo menos, uma ínfima condição para se defender. A não ser que acredite na sua incapacidade, justiça divina ou humana para merecer o sofrimento.
Mesmo sem perceber, de alguma forma, damos ao outro a permissão de nos maltratar e se não descobrirmos de que maneira permitimos a violência, não a resolveremos em sua raiz.
Em qualquer circunstância há pelo menos dois comprometidos e para que tudo permaneça nas mesmas condições, todos os envolvidos precisam fornecer energia, sua parcela de contribuição para alimentar a forma e qualidade da relação. 
Se você acreditar e sentir que é a vítima no caso, o tempo que dispender com sentimentos de inferioridade, mágoa, raiva, medo, desamparo, desigualdade, desorientação, dúvida, e se além de tudo isto, firmar a culpa alheia pelo seu estado lamentável, creio que suas chances de modificar a circunstância  tornam-se mínimas ou quase inexistentes. Porque olhar para si como o sacrificado, certamente o colocará na posição de incapaz.
Mas, ao escolher a autoanálise e buscar pela parte que lhe cabe de responsabilidade no que ocorre, todo cenário muda. Identificar os próprios aspectos que alimentam o desiquilíbrio da relação, lhe propicia a consciência do que deve modificar em si, para não mais contribuir com o fato e por isto abrir suas portas para sair do sofrimento, isto é, ao investigar com afinco as raízes internas da sua  maléfica condição, poderá altera-la. Eis a chave da liberdade! Autoconsciência.
E quando admitir que existe em seu ser uma força motriz para sair do seu penar e não acreditar no estado de vitima, com a consciência dos seus motivos internos, que alimentam a relação, o mal, como um tumor sem irrigação sanguínea, perecerá ou seja, o cenário mudará, porque você modifica sua posição,  assim como num jogo de xadrez:  a mudança de uma peça de forma adequada, altera o jogo e se for na mira, é xeque-mate!

                                             © Direitos reservados a Ala Voloshyn

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